Acho que ainda vou precisar de mais tempo para me recompor. Minha grande amiga, e acho que já falei dela aqui no blog, me deu um susto nesta manhã. Comecei a ficar tensa, frustrada, totalmente arrasada com a possibilidade de não tê-la mais em minha vida... Ela veio comigo na mala, toda bem acondicionada para não se machucar. Na verdade, nossa relação ficou mais próxima depois que viemos para Buenos Aires, estimulada pela minha mãe, mais experiente, e que sempre viu nela grandes qualidades para uma amizade duradoura. Admito que depois que explodi a cafeteira italiana de meu marido, na época em que ainda éramos namorados, e emporcalhei o teto da cozinha dele com borra de café, fiquei um pouco traumatizada com alguns aparelhos que levam borrachinhas. Mas quando nos vimos sozinhas, eu e ela, aqui na cozinha, com o desafio de preparar um almoço em meia hora para uma galera faminta, que tinha uma mega expectativa em relação à minha pessoa, percebi o quão especial ela era na minha vida. Com ela o feijão saía rápido e cremoso e a carne, que até hoje confundo vacio com colita e outros cortes mais, vinha surpreendentemente macia. E fomos ficando cada vez mais próximas e dependentes uma da outra. Minha mãe, sempre acompanhando de perto a evolução dessa relação, perguntava sobre minha amiga e até mandou por um amigo uma nova borrachinha para ela continuar com fôlego. Mas a nova borrachinha teima em me dar sustos. Tudo bem que minha amiga, assim como eu, com o passar do tempo tem ficado um pouco amassada, mas a nova borrachinha mal colocada é que faz o maior estrago, mais uma vez, nas nossas vidas. Nesta manhã, foram várias tentativas. E até que eu acertasse a sua colocação de forma perfeita, o feijão espirrou na parede e no fogão algumas vezes, deixando a mim e a meus filhos, que até então estavam alheios à importância dessa relação, muito preocupados. Uma, duas, três, QUATRO vezes. Já estava ficando sem esperança, quase me despedindo dela, quando finalmente, minha amiga deu os primeiros sinais vitais. E então foi só mais um susto e só quem tem uma grande amizade é que vai me entender. Reproduzo abaixo um diálogo que tive recentemente com meu filho, naturalmente depois da chegada da nova amiga à minha vida. Ele tem seis anos e é bastante atento às minhas idiossincrasias.
- Mãe, tô com pena de você.
- Por que, meu filho?, perguntei.
- Porque sua comida está muito gostosa. E aí você vai ter que cozinhar mais vezes pra gente. E você não gosta. E você às vezes fica de mau humor.
- Nããão, filhão. - disse eu tentando minimizar, depois de um elogio desse, o que ele disse de forma certeira. - Mamãe gosta de cozinhar pra vocês, de vez em quando não tem problema.
- Mas, mãe, esse é o problema. É que não vai ser mais tããão de vez em quando...
Agora minha querida panela de pressão está ali, apitando tranquilamente, com o nosso feijão da semana começando a perfumar a sala, enquanto eu escrevo este post para me recompor e encarar o domingão que começa com um tempo meio assim. Será que vamos ter coragem de ver Alice no País das Maravilhas? Eles me pedem. Eu pondero. Depois não me venham com pesadelos à noite!!!