Argentina
Raça X Nacionalidade (5)
É comum entre brasileiros, acusar o povo argentino de racismo, pela simples vontade de ter um ?bode expiatório? para tentar esconder o próprio espelho e reafirmar uma idéia maldosa criada há muito tempo.
Intrigado com essas incessantes acusações, o blogueiro deu-se o trabalho de analisar qual o ponto culminante dessa barbaridade; percebe-se que foi o ?caso Grafite?. A partir dele, relembrei um fato, convenientemente pouquíssimo comentado no Brasil, que não só desmistifica esse ?racismo absoluto? dos argentinos conosco, como reitera a idéia de que os brasileiros simplesmente acusam os hermanos sem fundamento algum, reforçando o ódio e o preconceito ao país celeste, pisoteando sanidade, a lógica, o compromisso e o bom senso: O ?caso Baiano?.
Lamentavelmente, mais uma vez foram usados de ponte os meios de comunicação e o esporte das multidões. O lateral-direito Dermival Almeida Lima, conhecido como Baiano, atuou por vários clubes do futebol brasileiro e do exterior: Santos, Matonense, Vitória, Atlético-MG, Palmeiras, Las Palmas (ESP) e Boca Juniors da Argentina. Baiano atuou pelo clube argentino em 2005, posteriormente assinou contrato com o Palmeiras.
No clássico entre Corinthians e Palmeiras no Morumbi 11/07/05, o lateral agrediu o craque argentino Tevez com uma bolada no rosto, após ser expulso de campo. Após a partida, o jogador brasileiro ligou o ventilador, declarando que os torcedores brasileiros ?esquecem facilmente dos acontecimentos (quais?) e idolatram demasiadamente os craques argentinos", e ainda afirmou que ?lá? é diferente.
Declarou ele em entrevista à Rádio Jovem Pan após o jogo: ?Depois que aconteceu o episódio do Grafite, você vai jogar em outro país e muitas coisas acontecem, aí o cara vem aqui a gente trata como herói, esquecemos de muitas coisas, mas vai jogar lá na Argentina o negócio é diferente, não pelo povo argentino, mas pelos jogadores que, depois do caso Grafite, começaram a me tratar diferente durante o jogo. Começaram a me dar porrada toda hora, me xingando e falando muita coisa. Eu era o representante do Grafite lá.?
Um pouco mais tarde, no programa "Mesa Redonda" da TV Gazeta, Baiano acusou o goleiro Abbondanzieri e o atacante Guillermo Schelotto, ex-copanheiros de Boca Juniors, como responsáveis pela sua saída do clube argentino, e afirmou que depois do caso ?Grafite? o clima no Boca ficou ruim. Declarou também que foi ameaçado pelos principais jogadores do Clube portenho.
Naturalmente essas declarações foram para instigar ainda mais a rivalidade entre Brasil e Argentina, para agradar torcedores palmeirenses mordidos pela derrota, e evidentemente atacar os argentinos que atuavam no Corinthians.
Os depoimentos caíram como uma bomba nos veículos de comunicação do Brasil, que enfatizaram o preconceito argentino com os sempre injustiçados brasileiros. E Baiano foi dado como ?coitado?, e que o a atitude contra Tevez era justificável. O ex-dirigente do Palmeiras Salvador Hugo Palaia acusou na época: [sic] "Ele sofreu muito na Argentina, me contou tudo. O Baiano foi vítima de racismo no Boca Juniors".
Quando se apresentou no Santos F. C. em agosto de 2007, Baiano deu novos ares ao caso, culpando os argentinos por terem impedido ?o melhor momento de sua carreira?, que um companheiro escarrou nele, e que ?perdeu o prazer de jogar futebol?. Surrou mais um bocado o discurso de que passou por dificuldades no Boca quando Grafite acusou Desábato por racismo.
Porém, como no recente caso do desprezo à conquista de Del Potro, a imprensa argentina se manifestou: o diário "Olé" disse que o atleta nunca se referiu a atos de racismo enquanto morava em Buenos Aires, e que Baiano ?abaixava a cabeça?. "La Nación" e "Clarín" também falaram sobre a confusão no Morumbi. Os argentinos acreditam que Baiano fez as denúncias por não saber como justificar a agressão a Tevez.
Felizmente temos o recurso da memória, que é irrefutável. A santidade brasileira cai por terra em casos como quando Tinga, jogando no Internacional, foi hostilizado pela torcida do Juventude em 2005, ou o caso do volante Jeovânio, do Grêmio, contra Antonio Carlos, do Juventude, em 2006. Ou na entrevista à Agência Estado, publicada pelo Estadão, do lateral Baiano (sim! Ele mesmo), uma semana depois do ?caso Grafite? (!!), que morava hà 4 meses na Argentina, garantindo que não há racismo por lá, pelo contrário, que foi bem recebido e que sentia-se satisfeito.
Acompanhe a entrevista abaixo:
"Quero ficar até quando o Boca me quiser", revelou o lateral brasileiro. Seu prestígio é tanto que o próprio Diego Maradona pediu sua camisa.
Agencia Estado ? Ha racismo na Argentina?
Baiano - Nunca percebi nada. Sou muito bem tratado aqui. Eles me chamam de Bombom, um apelido que um jornalista me deu e pegou. Estou muito satisfeito aqui.
AE - Como foi a repercussão do caso da prisão de Desábato em São Paulo, acusado de racismo?
Baiano - Só soube pelos jornalistas, principalmente do Brasil. Nenhum jornalista argentino falou do caso comigo. Informalmente, ficaram assustados com o rigor do Brasil com a questão do racismo.
AE - Você conhece o Desábato?
Baiano - Não conheço pessoalmente. Ainda não enfrentamos o Quilmes. Só vi na televisao. É um bom jogador, um zagueiro típico argentino que entra com vigor nas jogadas.
AE - O Desábato disse que é normal chamar os colegas de negro na Argentina. É verdade?
Baiano ? É. Aqui no Boca há uns oito caras que são chamados de negro, inclusive o médico do clube que é o doutor Negro. Um jogador como o (Sebá) Dominguez, que foi para o Corinthians, é chamado de Negro, mas não é nada racista. É de um jeito carinhoso. O Tevez era negro aqui no Boca.
AE ? Voce teme que o episódio do Desábato piore o clima para os brasileiros que jogam na Argentina, como no seu caso?
Baiano - Acho que isso não tem nada a ver. Sou muito bem tratado no Boca. Tive uma identificação muito grande com a torcida. Minha família se adaptou perfeitamente a Buenos Aires. Eu quero jogar bem para continuar no Boca até o fim de carreira, se eles quiserem.
AE ? Já deu para sentir a força do Boca Juniors?
Baiano - Na pré-temporada, senti que o Boca é um time especial. Sempre atraímos muita gente e jogamos com casa cheia. E atuar no La Bombonera é uma sensação maravilhosa. Não dá pra descrever.
nota do blog: Um viva para a contradição! Um viva para mais um tabu derrubado.
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