Argentina
Propagandas
A propaganda (ou seria "publicidade", nesse caso?) é uma forma de entendermos a visão de um país. São duas visões antagônicas que vêm a ilustrar de maneira perfeita a ideia do nosso blog.
A primeira delas, veiculada no Brasil*, é de uma marca de cerveja:
A segunda, veiculada na Argentina, é de uma marca de cartão de crédito:
O amigo leitor pode entender os dois comerciais de duas maneiras:
1) não há nenhuma diferença nas provocações, ambas estão no mesmo nível de rivalidade/richa, e têm bom-humor, somente;
2) a primeira é uma "tiração de sarro" gratuita, ao passo que a segunda apenas exalta o seu jogador e o "orgulho nacional";
Há, ainda, uma terceira hipótese possível de se analisar, que é a de que ambas as peças publicitárias trazem visões veladas de xenofobia e fomentam a rivalidade da mesma forma.
Eu fico com a segunda opção, lógico, e explico o porquê.
Primeiro ponto: a marca da primeira propaganda tem como alvo único o Brasil, ainda que a AmBev seja uma multinacional; a direção do comercial é muito clara e direta, e não existem propagandas diferentes da Skol adaptadas ao país onde são vendidos os seus produtos; já no caso da MasterCard o modelo é o mesmo veiculado no mundo todo: "Há coisas na vida que não têm preço, para todas as outras existe Master Card";
Segundo: na propaganda da Skol, não há praticamente nada escrito, e o recurso utilizado é o da fala, tanto na parte narrativa (quando mostra as imagens e sons que representam a ideia do comercial) quanto na argumentativa (onde há o diálogo - unilateral - com o espectador); na do MasterCard, o som é o de uma música de fundo, e a narração é através de frases escritas; o diálogo com o leitor, é sutil, sempre usando o termo no coletivo;
Terceiro e último, o conteúdo: a propaganda da Skol aponta claramente para a rivalidade, não fazendo a menor questão de usar metáforas: Brasil e Argentina; camisa amarela e camisa azul clara; ataque e defesa. A associação "se o cara que tivesse inventado a Skol tivesse inventado a trave..." nos remete ao famigerado jeitinho brasileiro: repare que não há um elogio à qualidade brasileira; o que há, é um icentivo ao erro - através de métodos ilegais - do adversário.
Na propaganda da Master Card, há uma exaltação: o futebol que move classes sociais, raças, cores, idades (repare na quantidade de pessoas) e acaba por dar destaque à bandeira argentina com um símbolo do corinthians misturado ao sol albiceleste. Não está dito "Tevez humilha os brasileiros" ou "somos muito melhores que eles". Há um festejo ao fato de um jogador argentino jovem (na época, tinha 21 anos) fazer sucesso no futebol brasileiro, o maior campeão das Copas do Mundo.
Na propaganda da Skol, o termo "argentino" é usado direcionadamente aos jogadores: "o argentino..."; na da MasterCard, "brasileiro" é o futebol; na da Skol, a alegria é falsa, com diversas inversões de valores, como "o argentino chutou a trave"; na da Master Card, temos Tevez e personagens comuns dançando; na da Skol, temos uma idéia de "que bom seria se os argentinos tivessem traves menores ou móveis contra eles"; na da Master Card, temos que "mesmo com os brasileiros tendo tudo de melhor, um argentino ainda consegue se destacar".
São diferenças gritantes. Mas, como se não fosse suficiente, a Skol lançou a parte 2*.
E aí?
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*nota do blog: ambas as propagandas da Skol, na época, foram denunciadas no CONAR (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação de Publicidade e Propaganda), órgão que avali(z)a publicidade no Brasil e tiveram de ser modificadas.
?Skol ? Carrinho? e ?Skol ? Pelado?Representação n° 132/06Autor: Conselho Superior do Conar, a partir de requerimento feito por representante do Ministério Público de Santa CatarinaAnunciante e agência: Ambev e F/NazcaRelator: André Porto AlegreSegunda CâmaraDecisão: AlteraçãoFundamento: Artigo 50 letra ?b? do Código e seu Anexo ?P?, item ?2?, letra ?a?.
O diretor executivo do Conar ofereceu representação contra dois comerciais de TV da cerveja Skol, com base em queixa do Promotor de Justiça de Defesa do Consumidor de Santa Catarina, que considerou que as peças discriminam e desrespeitam a Argentina e seus nacionais. O diretor executivo aduziu que nas peças atuam modelos que aparentam idade menor de 25 anos, o que infringe o Código de Ética.
Em sua defesa, anunciante e agência apontaram que as peças não apresentam desrespeito ou discriminação a qualquer nacionalidade, apenas usam a conhecida rivalidade entre torcidas pelo lado cômico. Sobre os modelos, afirmam que eles não só aparentam como efetivamente têm mais de 25 anos.O relator concordou com a defesa em relação a não haver discriminação contra argentinos nas peças, mas não em relação à idade aparentada pelos modelos. Por isso, recomendou a alteração dos comerciais, aceita por unanimidade.
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