A afinidade entre as músicas brasileira e argentina é antiga. Quem não lembra de Mercedes Sosa combinando sons com a rapaziada do Clube da Esquina? Ou da parceria entre Herbert Vianna e Fito Paez? Bem, há mais uma dupla na mesma seara, formada pelo saxofonista, flautista e compositor brasileiro Mário Sève e pela cantora e compositora argentina Cecilia Stanzione.
Os dois se apresentam na Sala Baden Powell, em Copacabana, no próximo dia 25. No roteiro, sambas, milongas, boleros e zambas de própria autoria, como ?Piedra o barrilete?, ?Rueda gigante? e ?Canción necesaria?, gravada originalmente por Carol Saboya. O público também vai conhecer uma versão de Cecilia, em castelhano e ainda inédita, para ?Filosofia?, clássico de Noel Rosa.
?Cecilia é uma grande poetisa e dona de uma das vozes mais lindas que já ouvi? Uma cantora intensa como fazia tempo não escutava?, derrete-se o parceiro, músico da banda de Paulinho de Viola e integrante do quinteto Aquarela Carioca e do conjunto de choro Nó em Pingo D´Água. Trocamos uma ideia com Cecilia Stanzione para saber o que pensa sobre viver e trabalhar em terras (e praias) cariocas. E é bom avisar: o primeiro disco da dupla já está a caminho!
CAIXINHA DE MÚSICA ? Há quanto tempo você está morando no Rio de Janeiro? Qual bairro escolheu para viver? O que mais gosta da cidade?
CECILIA STANZIONE ? Estou morando no Rio há um ano e meio. Escolhi Ipanema porque queria ficar perto da praia. Gosto de muitas coisas desta cidade. A simpatia e solidaridade do povo brasileiro me fazem muito feliz e é o que eu quero para a vida da minha filha Maia, que vai fazer 7 anos em abril.
CAIXINHA ? O que acha que as músicas brasileira e argentina têm em comum? Que músicos nossos você imagina que agradariam os seus compatriotas?
CECILIA ? A duas músicas têm, realmente, muito a ver. O choro, embora não seja muito conhecido lá, está bem proximo do tango nas melodias e no fraseado. Os músicos brasileiros são referências para quem vive de música na Argentina e no resto do mundo. Acredito que existem vários músicos daqui que deveriam ser mais conhecidos no meu país, como o Paulinho da Viola. Quem gosta de samba ? e quem não gosta? ? tem de ouvi-lo!
CAIXINHA ? Conta um pouco sobre o trabalho que você está criando com Mário Sève, um de nossos brilhantes instrumentistas.
CECILIA - O trabalho com o Mário comecou por essas coisas da vida e da realidade virtual que estamos vivendo. A gente fez muitas músicas juntos antes do encontro ao vivo. Tudo através da Internet. Isso deu como resultado um disco que eu adoro porque acho muito inspirado, com letras minhas e músicas dele. É um disco de canções. Dessas canções fáceis de ouvir, que batem antes no coração. A música do Mário é muito rica, mas também tem esse jeito clássico e não pretencioso que acho fundamental.
CAIXINHA ? Como vocês combinam as canções dos dois países no roteiro? Qual é o critério: sonoridade, mensagem, intuição?
CECILIA ? O roteiro vai misturando músicas de ambos os países, dando prioridade às semelhanças. Minhas letras em espanhol, feitas especialmente para as bossas, os sambas e os tangos do Mário, que é carioca, fazem acreditar na música como uma linguagem universal mesmo. A sonoridade é simples: bem acústica, com o violão argentino do Rene Rossano e piano e acordeão do Gabriel Gestzi. Mario toca sopros e eu canto e toco alguns instrumentos de percussão.
CAIXINHA ? Você é muito conhecida na Argentina. Como está sendo, de certa forma, recomeçar em outro país?
CECILIA ? É duro, mas gosto de desafios e os procuro constantemente. Claro que tería sido mais fácil, num certo sentido, ficar lá, trabalhando na TV e nos teatros e fazendo gravações na minha língua natal.Mas quando comecei a viajar pelo Brasil, senti que deveria passar um tempo aqui, cumprir uma etapa. E acredite que não me arrependo.